Deputado quer Procissão de Bom Jesus dos Passos em Oeiras como Patrimônio Imaterial do Piauí
julho 04, 2021Pessoas vestidas de roxo, rezando, pagando promessas, andando por uma Oeiras com flores e lamparinas. Uma procissão com cerca de 30 mil pessoas. Amigos e famílias juntos, com oeirenses que moram em diversas partes do país voltando à cidade. A Procissão de Bom Jesus dos Passos é esse momento, que acontece na sexta-feira que antecede a Semana Santa e é uma das maiores e mais antigas manifestações de no Brasil.
Um dia antes, na quinta-feira, há a Procissão da Fugida, que marca o início de um calendário de atividades que se estende até a sexta-feira. Para a historiadora Ariane Lima, que estuda a procissão desde 2008, “essa é uma característica diferente, enquanto é tradição em outros lugares acontecer uma via-sacra em estilo português durante a Semana Santa, em Oeiras ela acontece uma semana antes, que é a Procissão dos Passos”.
O deputado estadual B.Sá (PP), sendo um dos representantes da cidade na Alepi, lembra que a grandiosidade do evento que acontece na primeira capital é inegável “São cerca de 30 mil pessoas, a cidade sendo toda preparada, como ao colocarem flores, lamparinas e muita gente de Oeiras, que mora fora, voltando para a cidade na Semana Santa para rever familiares e amigos”.
Ele propôs O Projeto de Lei que deve regulamentar a importância religiosa, cultural e turística da procissão de Bom Jesus dos Passos, através da sua declaração como Patrimônio Cultural Imaterial do Estado. Para ele, “quando nós apresentamos esse projeto de lei, para tornar a procissão reconhecida, é justamente para dar suporte, pois ela faz parte do nosso patrimônio cultural”. Acrescenta.
História de fé - Não é sabido exatamente quando a tradição começou, pois, as manifestações culturais surgem, muitas vezes, espontaneamente, sem um documento que fixe o nascimento. Mas, conforme Lima, é possível pensar em duas datas, que dão indícios desse surgimento. “Acreditamos que a procissão é colonial. Temos dois documentos registrados sobre o período: um de 1809, que é uma planta sobre a cidade de Oeiras e conseguimos identificar, nela, as capelas de Passos, que representam os pontos de parada durante a procissão. Então, isso é um indício que ela remonta a pelo menos 1809. Outro documento, de 1859, é um compromisso da Irmandade de Bom Jesus dos Passos, que descreve como deve ser organizada e como deve acontecer a procissão. São documentos do período Imperial que identificam a existência da procissão já nessa época, mas com indícios que ela remonta ao período colonial”, diz.
A Procissão de Bom Jesus dos Passos encena a via-sacra, que é a caminhada de Jesus até a crucificação. Em Oeiras, os devotos saem da Igreja Nossa Senhora do Rosário e vão até à Catedral Nossa Senhora das Vitórias, passando por vários pontos da cidade e realizando sete paradas, onde ocorrem celebrações. Nesse trajeto, há pessoas pagando promessas, como ao vestirem-se de roxo, andarem descalças, de joelhos, com pedra na cabeça, carregando cruz e existem aquelas que deixam esculturas de partes do corpo, simbolizando uma cura.
Impacto social e econômico - A festa religiosa muda a dinâmica da cidade, pois além da volta dos oeirenses para visitar seus familiares e dos grupos de romeiros das cidades vizinhas, há o turismo religioso, que também conta com católicos e curiosos que vão à procissão. Isso gera também um impacto econômico, pois, para Ariane Lima, “a festa movimenta o comércio, a venda de vestimentas próprias para o uso durante a festa, a movimentação em pousadas, em restaurantes. Todo esse comércio associado ao acolhimento dessas pessoas que vem de fora é movimentado, desde o consumo de alimentos típicos da Semana Santa a qualquer outra coisa associada à presença desse contingente de pessoas”.
Ao propor a patrimonialização da Procissão de Bom Jesus dos Passos, B.Sá diz que, além de reconhecer e ser um caminho de ajudar a manifestação, é “importante para valorizar o que é nosso, a nossa cultura, e para conseguirmos continuar a nossa história para as próximas gerações”. De acordo com Lima, tornar a procissão um Patrimônio Cultural Imaterial é uma esperança que “esse título promova políticas públicas de salvaguarda desse bem. Só dar o título não traz importância para a cidade, para a cultura propriamente. Ela só vai ter um efetivo exercício acompanhada de políticas que dê meios de sobrevivência àqueles que organizam a festa, dê espaço para que aquela cultura permaneça viva e autêntica na comunidade, que é um espaço de reprodução da cultura e de criação de laços afetivos”.
As festas religiosas são espaços de aproximação e são frequentadas pelas mais diversas pessoas, das mais distintas classes sociais, e a devoção em si, é o elo entre elas. Conforme Lima, é um momento “de criação de laços identitários. Não é somente uma festa para se ver, é para se sentir”. O projeto do deputado B.Sá ainda está tramitando na Assembleia Legislativa, tendo que passar primeiro pela Comissão de Constituição e Justiça, depois pela de Cultura para, então, ser votado no plenário. Para o parlamentar, a expectativa é de aprovação unânime do projeto de lei.
Fonte: ALEPI
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