Carlos Rubem, o Bill: oeirense da gema e da clara

Carlos Rubem, Campos Reis, conhecido por “Bill”, tem 60 anos, é um oeirense da gema e da clara. Sem dúvidas um homem muito ligado aos valores de Oeiras, amada cidade que leva o título de primeira capital do Piauí. Além de tudo, um grande articulador cultural. Há quem diga que ele foi promotor Justiça nas horas vagas. No ano passado, aposentou-se das lides ministeriais.

Fez o primário e ginasial em sua terra natal. O científico, no Colégio Lourenço Filho, em Fortaleza (1977). Concluiu o Curso de Direito pela Universidade Federal do Ceará (UFC) em 1981. Militou na advocacia, em Oeiras, entre 1982 a 1988. No ano seguinte, ingressou no Ministério Público do Piauí.

Desde criança participa da vida social da sua terra

Membro de tradicional família interiorana. Desde criança participa da vida social da sua terra mãe. Em 1971, presidiu o Club de Adolescente em Marcha, e a Juventude Alegre Oeirense, em 1974. Esteve à frente do Oeiras Club (1990), Rotary Club de Oeiras (1992), e do Instituto Histórico de Oeiras (2001 a 2004). A Fundação Nogueira Tapety é presidida por ele.

Costuma dizer que “conservar é transformar”. Sem ser umbiguista, se entrincheirou na defesa do patrimônio arquitetônico e imaterial do sertão. Arrostou muitas incompreensões. Mas as suas ações comunitárias já se fazem sentir. Não hesita ressaltar, sempre, sua identidade sertaneja.

No ensaio sobre a colonial cidade de Oeiras, dirigido pelo fotógrafo André Pessoa para a série especial produzida pelo jornal Meio Norte em homenagem ao Dia do Piauí, Bill foi o produtor local viabilizando toda a estrutura necessária para os ensaios fotográficos.

Conheça um pouco mais da sua história e da experiência de participar de um projeto como esse que está destacando as diferentes regiões do Piauí através das paisagens naturais e culturais do estado ilustradas pela beleza feminina.

““Sou um produto do meio, aberto aos sentimentos universais. Fui influenciado pelos valores familiares, religiosos, educacionais e cívicos que a cidade me oferece desde a mais tenra idade”"Carlos Rubem

JMN: Como o senhor enxerga a identidade do homem sertanejo?

CR: Não devemos ter o pejo de mostrar a nossa autêntica cara, dizer das nossas origens, realçar nosso traço identitário, sob pena de sermos tachados de mascarados. Sei que há os modernosos, farsantes. Uma frase do grande Guimarães Rosa diz tudo: “Sertão: é dentro da gente”.

JMN: Como promotor de justiça, cargo que lhe confere um tom mais sério, isso não lhe furtou de estar ligado a causas culturais. Cultura é coisa séria?

CR: Hoje, na inatividade ministerial, retemperados estão os meus propósitos de contribuir ainda mais para o engrandecimento moral da minha gente. Note-se que na Constituição Federal está consignado um capítulo dedicado aos direitos culturais. Só não leva a sério a cultura os reacionários, os broncos que fazem parte de uma geração perdida. É mais fácil cortar a cabeça a mudar a cabeça de um recalcitrante empedernido, que ainda são muitos e arrotam poder por cá. Um fato é acalentador: há algumas décadas a educação patrimonial, aqui, é bem manejada, de forma transversal, na rede pública e particular de ensino. A boa semeadura já se faz notar...


JMN: Como foram as sessões fotográficas em Oeiras?

CR. Tudo foi planejado e executado com profissionalismo. As inevitáveis improvisações aguçaram a criatividade. O bambambã Jhordan Smith, maquiador de primeira linha, gente de Oeiras, muito engraçado com seus trejeitos, revelou-se um excelente produtor fotográfico (risos).

JMN: Durante décadas você exerceu a profissão de advogado e promotor de justiça, mas sempre com um pé nos movimentos culturais. Fale um pouco dessa sua paixão pela cultura popular e pelo patrimônio arquitetônico colonial de Oeiras?

CR: Sou um produto do meio, aberto aos sentimentos universais. Fui influenciado pelos valores familiares, religiosos, educacionais e cívicos que a cidade me oferece desde a mais tenra idade. A Velhacap possui magia própria e se reinventa sem perder sua essência. Conservar é transformar. Ninguém de bom senso quer fossilizar, mumificar a nossa “Pequena Pátria”, como se diz aqui. É compatível aliar o passado com presente visando qualidade de vida para a atual e novas gerações.

JMN: Além da modelo Tatielly Castro, vocês fotografaram também com crianças e modelos da própria cidade. Quem teve essa ideia e qual o objetivo?

CR: Bem! Não sou apenas defensor do patrimônio arquitetônico e imaterial da minha Oeiras. O povo vem em primeiro lugar. Neste contexto, a beleza negra sempre foi realçada desde os mais remotos tempos. Aliás, bairro Rosário é formado por uma população predominantemente negra. Gente portadora de elevada autoestima!

JMN: Você poderia citar alguns trabalhos nacionais simbólicos de André Pessoa sobre a cidade de Oeiras?

CR: Primeira matéria nacional por ele produzida foi sobre a nossa emblemática Procissão do Fogaréu para a revista internacional “Discovery Magazine”. Também levou à estampa várias matérias na revista de bordo do Grupo Itapemirim, chamada “Na Poltrona”. Houve também a inclusão de Oeiras no documentário “Across the Amazon” para o canal de tv americano “National Geographic”. Ele foi o protagonista e apresentador dessa série que foi exibida em vários países, além de dezenas de reportagens para a TV e Jornal Meio Norte e matérias em vários sites e revistas Brasil afora. O sonho dele é produzir uma reportagem para o Jornal Nacional sobre a Procissão do Fogaréu com o repórter Francisco José. Esteve com Ariano Suassuna visitando e documentando Oeiras, em 2004. Participou de várias edições do Festival de Cultura de Oeiras com mostras fotográficas, palestras, etc...

JMN: Como foi trabalhar com André Pessoa e sua equipe em Oeiras?

CR: Pessoa é um amor de pessoa... Criativo, talentoso, espraia energia positiva. A Tatielly Castro, a modelo capivariana, além de linda, é simpática e cativante, para se dizer o mínimo!

JMN: Que lugares simbólicos de Oeiras vocês fotografaram?

CR: Pousada do Cônego: belo exemplar da arquitetura colonial do Piauí, em formato de “U”. Construída pelo Visconde da Parnaíba - Manoel de Sousa Martins, Presidente da Província por quase 20 anos no Século IXX - para servir de residência do seu filho, Cônego João, Vigário da Paróquia de N. Sra. da Vitória; Sobrado João Nepomuceno: primeira edificação de Oeiras em dois pavimentos, no início do Século IXX. Serviu de residência da família Castelo Branco e Beleza. Sediou o Grupo Escolar “Costa Alvarenga” e de Palácio Episcopal. Desde 1983, abriga o acervo do Museu de Arte Sacra de Oeiras; Solar das 12 Janelas: antiga residência do Dr. Benedito Martins, Juiz de Direito, e do Dr. Antônio Gentil, Cirurgião-Dentista. Atual sede do Instituto Histórico de Oeiras; Casa da Pólvora: única edificação miliar do Piauí, em pé, da época imperial. Armazenava objetos bélicos. Em 13.12.1822 - Dia de Santa Luzia - ao pino do meio dia, ocorreu, em seu derredor um histórico. Os nativos insatisfeito do jugo português, mesmo após ao Grito do Ipiranga, tomaram de assalto este fortim e aplicaram chibatadas nos seus guardas; Casa do Coronel Orlando Carvalho: construída pelo seu primeiro proprietário, o fazendeiro Antônio Tapety (o velho), no início do Século XX. A sua fachada contém 13 janelas. Residência-museu daquele que foi comerciante e prefeito da cidade. Patriarca de uma numerosa e tradicional família oeirense; Casa da Fazenda Canela: hoje, situada no perímetro urbano. Construção do final do Século IXX. Local onde nasce e morreu o poeta Nogueira Tapety, o “Emotivo Estranho”, no dizer de Lucídio Freitas, fundador e patrono da Academia Piauiense de Letras; Sobrado Major Selemérico: última sede provincial, edificado no governo de Zacarias de Góis e Vasconcelos (1845 a 1847). Hoje, Centro Cultural de igual nome mantido pelo governo de estado e o Painel Decorativo do Mercado Público Dona Lili plasmado pelo artista Hostiano Machado.

JMN: O tema colonial escolhido pelo Jornal Meio Norte para homenagear Oeiras no ensaio fotográfico foi adequado?

CR: O grande escritor nativo O. G. Rêgo de Carvalho, certa feita, disse: “Oeiras, cidade colonial, famosa por seus poetas, músicos e loucos”. Homenagem ajustadíssima! Reflete a nossa identidade sertaneja...

JMN: Qual a verdadeira importância da histórica e cultural cidade de Oeiras, a primeira capital do Piauí?

CR: Somos assumidamente bairristas. Sem ser umbiguista, temos consciência crítica da importância de Oeiras na formação política do Piauí e sua referência no contexto brasileiro. Não é à toa que foi reconhecida, por força da Lei Federal nº 7.745/89, como “Cidade Monumento Nacional”.

Jornal Meio Norte: Você foi o articulador local do ensaio fotográfico produzido na cidade de Oeiras em homenagem ao Dia do Piauí com o tema colonial. Fale um pouco dessa experiência?

Carlos Rubem: Foi uma honra ter sido Assistente de Fotografia do tarimbado André Pessoa neste projeto comunicacional. Ele é um velho e querido amigo de Oeiras. Conheço-o há mais de 20 anos noutras empreitadas deste jaez!

Fonte: MEIO NORTE
Matéria da Redação
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